quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Todos os anos.

Quando eu era menor, não entendia essa coisa de ver minha mãe triste, toda vez que chegava o dia do seu aniversário. Quando eu fiz 14 anos, ela me chamou no quarto e disse: filha, esse é o ano que você faz 14 anos. O ano que vem, você fará 15. 15 anos, filha, é a data mais importante na vida de uma menina. Antes de seu casamento, e de quando seus filhos nascem... Porque 15 anos, é a data da mudança. Quando você diz oi pro mundo. Você começa a sair sozinha, você pode namorar mais tranquila, sem precisar se esconder (mãe eu tenho 14 e já namoro! rs) é a data que hoje em dia, você pode começar a trabalhar... É a data que pela primeira vez na vida, você vai usar um vestido rodado, estilo noiva (mãe, eu já fui daminha de uns 4 casamentos! rs). E filha, eu estou conversando isso com você, porque temos que começar a organizar sua festa. Sua festa que quinze anos, filha.
Daí ela chorou nessa hora. Chorou muito. Eu chorei também. Sem entender porque estava chorando. Mas chorei de vê-la assim, sabe?!
Depois que ela teve condição ela continuou me dizendo: filha, no dia dos meus 15 anos, meu pai não tinha condições de fazer uma festa pra mim. Eu entendi. Nunca fui essas meninas birrentas, que sempre quer uma coisa. Não entende que o pai não pode e quer de qualquer jeito... Aí, minha vizinha, que era como uma segunda mãe pra mim, me deu um vestido. Filha, era um vestido maravilhoso. E eu guardei ele por algumas semanas, só pra usar pela primeira vez naquele dia 27, que seria o dia da minha mudança. E eu marquei com um menino na porta da minha casa. Às 7:30 da noite (ela parou de contar e começou a chorar mais).
Mas aí, a sua avó... A sua avó tinha muito medo eu eu me casar e passar pelas mesmas coisas que ela passou. Ela não aceitava, de forma alguma, que eu me relacionasse com alguém. E quando o menino chegou pra me levar pra sair, sua avó saiu de casa, com uma vara de goiaba na mão. Ela quebrou aquela vara de goiaba nas minhas pernas e me bateu muito no rosto (ela contou isso pra mim, chorando muito. Quase não conseguia falar) e o pior, filha, ela rasgou o meu vestido novo. O vestido que ela nunca pôde me dar. Mas que eu tinha ganhado. E ela tirou isso de mim.
E filha, eu estou aqui, porque quero fazer tudo diferente com você. Graças a Deus, temos condições. E você terá o seu dia marcado na história. Na sua memória. (Por uma noção óbvia, eu não quis festa. Primeiro que eu sempre achei muito nhéc essa onda de vestido rodado. E segundo que eu preferi um sax. Tudo bem que eu escolhi a bicicleta no lugar do carro. Mas isso fica pra outro post. E por último: eu não me arrependo da escolha que tive. Mas deixa eu continuar. Amém!) Daí a vida foi passando... E eu comecei a notar na minha mãe. No seu dia 27.
Todas as vezes, é a vovó, a primeira a dar parabéns pra ela. Sim, minha vó mora "tão longe" e consegue falar com ela primeiro. E todas as vezes, minha mãe chora muito. Feito aquele dia do meu aniversário. E hoje, eu tentei acordar mais cedo que minha avó. Pra falar primeiro com minha mãe. Não deu certo! rs Mas eu consegui acordar junto com o telefone tocando. Minha mãe foi pro quarto com ele. Deitou na cama e só respondia: Anhan. Sim. Não. Talvez. E chorava um pouco. Daí teve uma hora que ela disse: mãe, isso já tem tanto tempo... naquela época, as coisas eram diferentes... você, talvez, estava certa, mãe... mãe, eu não tenho nada pra te perdoar... mãe passou! acabou!!! eu já esqueci isso mãe... e chorou muito. E quando ela desligou, ela não parou de chorar.
Daí eu entendi. Entendi que todas as vezes, minha vó faz o favor de lembrar a merda que ela fez há 30 anos. E que minha mãe nunca esqueceu isso. E que minha mãe é assim comigo, porque ela não teve uma mãe assim pra ela. É aquilo "faça com os outros, o que gostaria que tivessem feito com você..." e que por fim, mãe também erra. Vó, eu amo a senhora! Mas é tão ruim saber que hoje, minha mãe fica triste, por você. Isso não é legal não, vó.
Mãe, parabéns! Eu amo a senhora.

Um comentário:

Unknown disse...

Que lindo. Também amo minha avó ^.^