Cara Helena,
Sei que é bobagem da minha parte continuar lhe escrevendo cartas,
já que você se foi e jamais irá poder ler o que aqui escrevo. Até gostaria de
lhe mandar as cartas, mas não sei para onde mandar e essas cartas só tem o objetivo
de fechar uma ferida que constantemente se abre mostrando a dor de te perder. Éramos
tão jovens quando você se foi, estávamos parecendo dois bobos naquele noite onde o
acidente ocorreu. Me lembro com tanta clareza, dos fatos e a foto de nós dois sorrindo
arrumados para a formatura que está em minha cômoda não sai de lá. Afinal de contas
foi a última foto sua, antes de todo aquele pesadelo ocorrer. Me lembro das luzes
coloridas do baile, de seu vestido azul que fazia com que seus olhos ficassem mais
lindos do que já eram, lembro dos meus dedos em seus cabelos negros enquanto nós
dançávamos a valsa e todo o resto que uma formatura deve ter. E depois disso me
lembro das risadas dentro do carro, do seu sorriso enquanto conversava e então as luzes,
as luzes daquele carro dirigido por James que havia bebido demais naquela noite e me
lembro do choque de te ver com um corte sobre a testa quando o vidro estourou no segundo
em que nossos carros se colidiram e depois a escuridão.
Eu acabei desmaiando e você, bom você não resistiu aos ferimentos que era muito mais
do que aquele corte na testa. Lembro de ver seu rosto sem vida deitado na calçada,
enquanto o resgate tentava te reanimar sem sucesso, lembro das lágrimas que escorriam de
meus olhos e no dia seguinte, me lembro de seu enterro no qual eu senti como se tivesse
perdido uma parte de mim, uma parte que estava sendo enterrada perante meus olhos sem que
eu pudesse mudar aquilo. Depois disso, nada mais foi igual. Minha vida passou a ser
monótona sem seu riso encantador e sem seu rosto angelical, sua família se mudou da cidade
porque não conseguia mais viver aqui. Se mudaram para a cidade depois da plataforma.
Eu ainda me sinto preso a você, as outras garotas não são como você. E prefiro trocar elas,
por uma visita ao seu túmulo no cemitério da cidade. Sempre lhe levo as suas tão amadas
rosas brancas e fico lá em silêncio esperando poder lhe ouvir. Não consigo ouvir nada
além dos galhos da árvore se movendo de acordo com o vento. Eu sinto tanto a sua falta...
E eu ainda te amo demais.
Com amor,
Will.
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